Estudo monitora rio Piracicaba da nascente à foz por um ano

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Rafael Grossi Botelho

Um dos mais importantes mananciais paulistas, responsável pelo abastecimento da região metropolitana de Campinas e parte da grande São Paulo, o rio Piracicaba nasce no município de Americana e percorre 250 quilômetros até desaguar no rio Tietê, seu maior afluente em volume de água.

Durante esse percurso a paisagem da região varia bastante, mas a maior parte de seu sinuoso trajeto está margeada por um único e predominante cenário: as plantações de cana-de-açúcar. Porém, se por um lado a cultura que domina o agronegócio do estado mais rico da nação é importante para a economia do país, por outro, os agrotóxicos aplicados no controle de pragas produzem consequências negativas para o meio ambiente, poluindo o solo e, consequentemente, a água proveniente das enxurradas.

Estudo do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP) monitorou a água do rio Piracicaba mensalmente em seis pontos de sua extensão total, da nascente à foz, pelo período de um ano com o objetivo de avaliar a qualidade desta bacia hidrográfica. A pesquisa apresentou desagradáveis surpresas ao expor organismos aquáticos usados como cobaias em contato com a água bruta.

O experimento foi realizado em aquários localizados no laboratório de Ecotoxicologia do Cena/USP, com a utilização do peixe paulistinha e outros dois tipos de microcrustáceos. Para a espécie paulistinha, uma série de alterações nas brânquias foi observada após contato com a água do rio Piracicaba. Já para os microcrustáceos, a pesquisa observou uma baixa reprodução dos organismos nos meses que apresentaram altos valores de precipitação, que pode arrastar os poluentes para o rio.

“Os três organismos aquáticos usados são excelentes indicadores de qualidade, padronizados para esse tipo de análise. Inclusive, o paulistinha é normatizado internacionalmente”, afirma o biólogo Rafael Grossi Botelho, que teve sua tese de doutorado aprovada na última semana sob a orientação do professor Valdemar Luiz Tornisielo.

Ainda segundo o biólogo, as brânquias têm sido uma ferramenta eficiente no monitoramento de ambientes aquáticos. “Devido seu contato com a água e alta permeabilidade, agentes químicos e amostras ambientais podem alterar a sua estrutura”, detalha.

Também foram encontrados nas águas brutas dois pesticidas amplamente aplicados nas culturas de cana-de-açúcar. Os herbicidas são da classe das triazinas e foram determinados no rio Piracicaba em concentrações presentes nas amostras expostas em laboratório ao paulistinha. Os resultados indicaram que essas concentrações foram genotóxicas e mutagênicas para a espécie, informa o bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Entretanto, a descoberta mais impactante do estudo é que as concentrações de uma destas moléculas mesmo estando abaixo do limite estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que permite até dois microgramas/litro, se apresentaram mutagênica e genotóxica. Perante esse fato, Botelho recomenda em sua tese que a legislação ambiental deva ser revista com urgência quanto ao limite máximo permitido deste produto. “Quantificamos concentrações de até 1,92 microgramas por litro, enquanto na Europa esse índice não pode ultrapassar 0,5 microgramas/litro”, comparou.

 


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