Cena/USP comemora 45 anos de sucesso em experiências nucleares aplicadas na agricultura

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Instituto de pesquisa especializado da Universidade de São Paulo (USP), o Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) completa 45 anos de fundação nesta quinta-feira (22/09). Considerado um centro acadêmico de excelência internacional no desenvolvimento de pesquisas nas áreas agropecuárias, de alimentação e meio ambiente, por meio de técnicas nucleares, sua abrangência também se aplica a outros campos da ciência.

Embora não se limite ao uso e ao desenvolvimento de tecnologias nucleares, a radiação é amplamente usada em suas diversas experiências, dentre elas muitas já se encontram inseridas em nosso cotidiano – algumas, inclusive, muito importantes. “Apesar de se tratar de uma ciência ainda pouco conhecida pelos brasileiros, o uso pacífico da energia nuclear traz inúmeros benefícios para o desenvolvimento e o progresso da humanidade. Várias conquistas e evoluções se deram por conta da irradiação, ou radiação ionizante, por meio de equipamentos que emitem raios gama de cobalto-60, forma como esse tipo de tratamento é utilizado no Cena”, explica o professor Antonio Vargas de Oliveira Figueira, atual diretor da instituição.

No Brasil, o Cena contribui muito para essa evolução, permitindo que o uso da irradiação como tratamento fitossanitário se torne uma técnica eficiente na conservação de frutas e outros alimentos, reduzindo perdas naturais causadas por processos fisiológicos, maturação e envelhecimento. Quanto ao gerenciamento do risco de pragas, é capaz de eliminar ou reduzir microrganismos e parasitas, sem causar qualquer prejuízo ao alimento, tornando-os mais seguros ao consumidor.

Coincidentemente, no início deste ano festivo, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou a Instrução Normativa número 9, que regulamenta e libera o uso da radiação ionizante como tratamento fitossanitário no gerenciamento do risco de pragas em todo território brasileiro. “A IN 9 reconhece a irradiação como um tratamento fitossanitário. Antes desta norma não existia uma legislação específica sobre esse procedimento e as antigas leis se referiam às técnicas de combate a pragas como inseticidas, ou seja, produtos químicos”, diz Julio Marcos Melges Walder, professor do laboratório de Irradiação de Alimentos e Radioentomologia do Cena.

Em tanto anos de história, a instituição contabiliza experiências de muito sucesso aplicadas na agricultura, algumas muito importantes que, inclusive, já são aproveitadas em escala comercial, como é o caso do arroz e do feijão. Para se ter uma idéia, em 1975, pesquisadores do Cena iniciaram um projeto, em colaboração com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), visando a obtenção de uma variedade resistente ao vírus do mosaico dourado, doença que ataca as folhas da planta do feijão na seca, impedindo seu bom desenvolvimento.

Com a irradiação das sementes, obteve-se um mutante tolerante a essa moléstia, mas que inicialmente apresentava baixa produtividade. No entanto, a partir dele iniciou-se um longo processo de cruzamento e seleção, num trabalho conjunto com o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). O resultado foi o cultivo de alta produtividade e tolerante ao vírus da doença, que vem sendo cultivado desde 1992. Atualmente, esse feijão produz 1.400 quilos por hectare (kg/ha), enquanto a espécie comum produz apenas 400 kg/ha. “Posteriormente, o Cena produziu um feijoeiro com maior altura, duas vezes e meia mais alto que o comum, que mantêm as vagens mais distantes do solo. Isso pode servir para quem tem interesse na colheita mecanizada”, lembra Figueira.

A precocidade e a mudança de hábito de crescimento do feijão Carioca também se deve aos pesquisadores do Cena, passando a ser este o primeiro mutante a ser liberado para plantio no Brasil, em 1986. Líder na preferência dos consumidores, foi plantado no Paraná como cultura intercalar, nas entrelinhas dos cafezais. “Uma simples dose de radiação pode tanto ser usada para esterilizar uma agulha quanto para criar uma variedade de feijão resistente a pragas. Essas pesquisas, assim como outras tantas, criaram variedades importantes que já são comercializadas”, acrescenta o diretor.

A indução da radiação também pode ser usada para criar mutações genéticas com características e variedades que até então não existiam. Um bom exemplo é a pesquisa que foi desenvolvida por produtores de flores em Holambra/SP, os quais criaram variedades de crisântemos com cores que a flor não possuía.

Graças a outra descoberta do Cena, uma laranja sem sementes, em breve, poderá ser encontrada no mercado e beneficiará tanto os consumidores quanto a indústria. A fruta foi obtida pela indução de mutações e será a primeira variedade no País a utilizar essa metodologia.

O experimento foi iniciado em 1983, com a produção de cerca de oito mil plantas obtidas a partir de borbulhas de laranja pêra irradiadas com dose de 40 Grays (unidade de dosagem da radiação). Estas formaram a população inicial de plantas que foram utilizadas para a seleção. “Após dois ciclos de escolha, 29 clones mutantes foram selecionados, sendo que 24 tinham frutos totalmente sem sementes. Alguns destes clones estão sendo testados em campos experimentais em três fazendas do Estado de São Paulo visando avaliar seu potencial para lançamento comercial”, conta o professor Augusto Tulmann Neto, coordenador da pesquisa. “Até o momento, pode-se verificar que, apesar da ausência de sementes, os mutantes têm mantido seus padrões sensoriais de sabor e aroma, uma importante vantagem quando se utiliza a técnica da indução de mutação”, comenta.

O professor enfatiza que, por este processo, centenas de novas variedades de espécies foram liberadas aos agricultores para plantio e já estão sendo consumidas em dezenas de países, sem riscos, uma vez que os materiais e os mutantes obtidos não ficam radioativos, sofrendo apenas modificações em seu material genético.

Devido ao sucesso obtido neste projeto, a mesma metodologia tem sido utilizada na obtenção de variedades com frutos de maturação mais precoce, plantas com porte baixo ou mais resistentes a doenças e pragas. Como exemplo, podem ser citadas as pesquisas envolvendo o limão cravo, o principal porta-enxerto de citros no Brasil, com a finalidade de obter plantas de porte baixo e tolerantes à morte súbita dos citros; e a tentativa de obter tangerinas Fremont e Thomas com frutos sem sementes e mutantes de laranjeiras resistentes à infecção pela bactéria do Huanglongbing (HLB), doença que apresenta grande potencial de destruição (este último projeto ainda está em fase inicial).

Outro importante exemplo de pesquisa realizada pelo Cena é a esterilização da mosca do mediterrâneo. Conhecida como uma das principais pragas da fruticultura, a radiação tornou o macho estéril, sendo que, ao cruzar com a fêmea, não há fecundação, o que diminui consideravelmente sua incidência. O resultado é um maior controle da praga e a redução das barreiras fitossanitárias das frutas brasileiras no mercado internacional. “Apesar de usar um aparato radioativo, a técnica é bastante simples, já que irradiamos a pupa, o que faz o macho nascer infértil. Além de mais barata e menos danosa ao meio ambiente por dispensar o uso de pesticidas, a técnica tem se mostrado mais eficiente”, esclarece o professor Julio Marcos.

Sobre o Cena:

Situado numa área de 60 mil metros quadrados dentro do Campus “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (USP), o Cena conta com 21 laboratórios altamente equipados e uma equipe de mais de 300 pessoas, que visam atender o lema da instituição: “Melhorar a qualidade de vida, gerando e difundindo conhecimentos relacionados à agropecuária e ao ambiente”.

Além de atuar com pesquisas desenvolvidas pelos docentes da instituição, o Cena também exerce atividades na área de pós-graduação, com parte de suas pesquisas sendo desenvolvidas por alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado.

Na última avaliação trienal (2008-2010) realizada pela Capes, o Programa de Pós-graduação do Cena recebeu conceito 7, valor máximo desta avaliação.

Legenda: Plantio comemorativo reuniu professores e autoridades do campus. Boaventura Freire dos Reis, Elias Ayres Guidetti Zagatto, Antonio Vargas de Oliveira Figueira e Wilson Mattos.

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