Professores do CENA, recebem homenagens em Congressos de Química Analítica

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O Prof. Boaventura recebeu a medalha “Carol Collins”, considerada a maior honraria concedida pela Divisão de Química Analítica da SBQ.

O Prof. Krug recebeu a medalha “Adilson Curtius”, outorgada aos pesquisadores de maior destaque na área de Espectrometria atômica.

Medalha Carol Collins

A Medalha Carol Collins foi instituída em 2016, durante o ENQA – Florianópolis/SC –  pela Divisão de Química Analítica da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) em reconhecimento ao trabalho da Profª. Carol Collins, que nos deixou há uma semana. A profa Carol (in memoriam) foi a primeira Diretora da Divisão de Química Analítica, participando ativamente de quase todos os ENQAs e com destacada atuação para a consolidação da área no Brasil.

A medalha Carol Collins pode ser considerada a maior honraria na área da Química Analítica brasileira e é concedida a cada edição do ENQA a um pesquisador com reconhecida contribuição e liderança científica, tecnológica e de internacionalização e formação de recursos humanos.

Esta é a segunda edição da medalha “Carol Collins”. O agraciado na primeira edição foi o prof. Érico Flores (UFSM), que recebeu a honraria durante o 19º ENQA, realizado em 2018 na cidade de Caldas Novas/GO.

Nesta edição, o processo de escolha do homenageado teve duas etapas.

Em um primeiro momento, foi solicitado aos associados que indicassem pesquisadores(as) que tivessem atuado de maneira significativa para o desenvolvimento e consolidação da Química Analítica no Brasil. Após as indicações, os 4 nomes com maior número de indicações foram escolhidos pela diretoria da ANA, levando em consideração o forte envolvimento com a Química Analítica do país, e, desta forma, foi aberto um processo de votação.

Com uma participação expressiva dos associados da ANA (50%), o indicado para receber esta honraria foi o Professor Boaventura Freire dos Reis do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (CENA/USP).

 

Homenageado com a Medalha Carol Collins – Boaventura Freire dos Reis

O professor Boaventura, carinhosamente conhecido como Boa, é um exemplo de inspiração para todos nós e, para fazer essa apresentação, solicitei ajuda ao Professor Fábio Rocha, que gentilmente me enviou um material rico e emocionante, do qual eu retirei algumas informações.

O professor Boaventura nasceu em 14 de março de 1939 na Fazenda Euzébio, município de Mairi no sertão do Estado da Bahia.

Ele aprendeu a ler e escrever quando tinha 8 anos de idade e a leitura fluente foi adquirida lendo literatura de cordel. Começou a trabalhar na roça com 6 ou 7 anos, como era costume no interior. O trabalho com madeira sempre exerceu nele um grande fascínio e descobriu sua habilidade fazendo piões e carrinhos de madeira.

Em 1959, se mudou para Itirapina-SP, após uma viagem de trem que durou 11 dias.

Entre 1961 e 1962 estudou rádio por correspondência. Nesta época os rádios ainda utilizavam válvulas termoiônica. Os rádios transistorizados ainda eram novidade no Brasil.

A possibilidade de estudar surgiu em 1964, quando foi fundado o Ginásio Estadual de Itirapina. Entretanto, sua matrícula no Curso de Admissão ao Ginásio não pôde ser efetuada, pois não tinha o certificado de conclusão do curso primário, o que só aconteceu após a Diretoria do Colégio aplicar um teste de conhecimento.

Casou-se, em 29 de novembro de 1969 com Aurora Aleixo de Lima, quando estava terminando a primeira série do curso colegial.

Seu primeiro filho, Eduardo, nasceu em 1971, quando estava se preparando para prestar o vestibular no ano seguinte. Conforme planejado, prestou vestibular para Física em 1972 na Faculdade de Ciências e Letras de Rio Claro.

Em meio às várias adversidades superadas, o professor Boaventura concluiu o curso de Física em 4 anos, sendo um dos 8 formandos de uma turma de 50 ingressantes.

Durante o quarto ano, lecionou química no Colégio Técnico “Nossa Senhora Auxiliadora” em Araras – SP, no período noturno. Nesta época, nasceu o seu segundo filho, Alexandre. Mudou-se de Itirapina para Rio Claro, onde permaneceu até 1978, quando foi contratado para trabalhar no Centro de Energia Nuclear na Agricultura em Piracicaba.

O professor Boaventura ingressou no curso de mestrado no programa de Pós-Graduação do CENA sob orientação do Dr. Henrique Bergamin Filho.

O plano inicial de pesquisa visava à determinação de espécies químicas por espectrografia. No entanto, durante a disciplina “Métodos Experimentais de Análises”, assistiu uma palestra proferida pelo Engenheiro Agrônomo Elias A. G. Zagatto, pesquisador do CENA, sobre o processo de “Análise Química por Injeção em Fluxo” (FIA) e então decidiu mudar seu plano de pesquisa, com a devida anuência do Dr. Bergamin. Os primeiros experimentos com FIA foram realizados acompanhando o pesquisador Elias A. G. Zagatto, que fazia parte do grupo de Química Analítica do CENA, juntamente com Francisco José Krug e o Dr. Henrique Bergamin Filho.

Durante o mestrado, desenvolveu um injetor proporcional, eliminando a necessidade do uso de seringas para inserir a amostra no percurso analítico. Este injetor ainda é usado até hoje pelos pesquisadores do CENA e de outras instituições nacionais e internacionais. Desenvolveu também um injetor automático, com o qual foi possível implementar, em sistemas de análise química em fluxo, a pré-concentração com resina de troca iônica; diluição em linha; e a técnica de adição de padrões para corrigir efeitos de matriz.

Em 1978 concluiu o mestrado e foi contratado como pesquisador do CENA. Foi também em 1978 que nasceu sua filha, Alessandra.

Em 1981, ingressou no curso de doutorado no programa de pós-graduação em Química Analítica na Universidade Estadual de Campinas, sob a orientação do Dr. Oswaldo Espírito Santo Godinho, e desenvolveu com êxito a automatização do processo de titulação potenciométrica. Utilizando o sistema automatizado desenvolvido, tornou-se possível efetuar quatro titulações por vez e armazenar os dados. Uma vez estabelecidas às condições operacionais, todas as etapas da titulação podiam ser executadas sem a necessidade de supervisão do operador.

Atuou como professor visitante na Faculdade de Química da Universidade de la Republica, Uruguai; Faculdade de Farmácia da Universidade de Conception, Chile; Faculdade de Química da Universidade de Valência, Espanha. Participou e coordenou convênios de cooperação internacional  com a Faculdade de Química da Universidade do Porto, Portugal e com Universidade de Valência.

Com essa trajetória inspiradora, o professor Boaventura é conhecido um dos principais pesquisadores internacionais na área de análise por injeção em fluxo e responsável pela formação de vários mestre e doutores. Ao todo, formou até o momento 19 mestres e 29 doutores, muitos dos quais estão atuando em diferentes Instituições do país. Publicou aproximadamente 230 artigos e possui mais de 5000 citações.

Atualmente é Professor Sênior junto ao Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo e bolsista de produtividade 1A do CNPq.

Assim, em função da significativa atuação científica na área de química analítica, formação de recursos humanos, pioneirismo na área da instrumentação e reconhecimento nacional e internacional, a Diretoria da Divisão de Química Analítica da SBQ, representada neste momento, por mim e meus colegas, Paola, Kelly e nosso ex-diretor, Josué:
Tem a satisfação de convidar o Professor Boaventura Freire dos Reis, para receber esta homenagem.