Por meio de uma técnica que bem poderia servir de inspiração para um filme de ficção científica, pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP) estão utilizando um ambiente com a concentração de carbono mais alta do que existe atualmente na Terra. A ideia é simular uma atmosfera mais carregada de dióxido de carbono (CO2), em uma quantidade estimada para ser alcançada somente daqui a 30 anos.
A cena não lembra a de um filme futurista, até porque o experimento está instalado em uma plantação de café, que dá um ar mais bucólico ao ambiente. Porém, o aspecto campal é quebrado por redondéis, onde a entrada do carbono é mais intensa, gerando um clima estimado para alcançarmos somente em 2040, caso as expectativas sobre o efeito estufa se concretizem.
O enriquecimento de gás carbônico no ar livre acontece em uma escala de 200 partes por milhão (ppm) a mais do que a concentração atual existente na atmosfera do planeta. Para tanto, sensores são acionados automaticamente de acordo com a direção e intensidade do vento e liberam mais CO2 sobre as plantas.
“Atualmente, trabalhamos com um nível de 550 ppm, já que o índice de concentração de CO2 na atmosfera é de cerca de 370 a 390 ppm”, afirma Adibe Luiz Abdalla, professor do Cena/USP e orientador do trabalho.
O experimento está localizado em Jaguariúna/SP, em área da Embrapa. A área possui 12 redondéis, com 10 metros de diâmetro, nos quais seis são equipados com injeções de C02 em seu interior, criando a atmosfera de CO2 elevado. A outra metade possui atmosfera ambiente.
O estudo objetiva determinar os efeitos de crescimento da gramínea ‘braquiária’, a mais comum entre as pastagens no Brasil, em duas atmosferas contrastantes, o ambiente natural e o enriquecida. “Em um ano de acompanhamento, pudemos observar o aumento de 20% das plantas que estavam no ambiente enriquecido, mostrando que a elevação de CO2 aumenta a fotossíntese e a produção de biomassa”, explica Abdalla.
Apesar desse significativo aumento, a braquiária produzida nestas condições é menos digestível para o animal. Outro dado negativo desse trabalho indica que somente a produção de cana-de-açúcar e de pastagens é que deve se beneficiar com o clima mais quente, demais culturas como algodão, arroz, feijão, soja, milho e trigo tendem a produzir menos.
Essa pesquisa pertence ao projeto Face, sigla de Free Air Carbon Dioxide Enrichment, e os resultados parciais do primeiro ano de coleta serão publicados em um evento sobre gases do efeito estufa, que ocorrerá entre os dias 23 e 26 de junho, na Irlanda.
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