Pesquisa inédita revela as emissões do café

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  Pesquisa inédita revela as emissões do café

 

Foram divulgados os primeiros resultados de um estudo inédito, focado nas emissões de gases do efeito estufa na cafeicultura, promovido pela illycaffè em parceria com o Centro de Energia Nuclear na Agricultura, da Universidade de São Paulo (CENA/USP). A pesquisa foi apresentada, no último mês de março em São Paulo (SP), durante o Seminário “Criando Valor a partir do Conhecimento e da Sustentabilidade”, organizado pela Universidade do Café Brasil.
Por meio deste projeto – que está identificando as emissões para reduzir o impacto e ampliar a fixação de carbono na cafeicultura –, a illycaffè busca conhecer melhor as implicações ambientais da atividade para conduzir e especializar, ainda mais, seu trabalho ligado à produção do café sustentável. A iniciativa também ajudará toda a cadeia produtiva do café a identificar os maiores problemas, aplicar alternativas que não prejudiquem a produção nem a qualidade do café e que, ao mesmo tempo, reduzam a contribuição do setor no aquecimento global.

 

A pesquisa, coordenada por Carlos Clemente Cerri, professor titular do CENA/USP e especialista em mudanças climáticas, está sendo desenvolvida em Minas Gerais, estado que concentra dois terços da produção de café do país, com suas 23,7 milhões de sacas produzidas em 2010, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). As análises foram concentradas em três importantes regiões produtoras: Cerrado, município de Presidente Olegário (MG); Matas de Minas, município de São João de Manhuaçu (MG); e Sul de Minas, município de Cabo Verde (MG).

O principal objetivo do estudo é, primeiramente, identificar os maiores focos de emissão, para que possam ser analisadas maneiras de amenizar os efeitos dos principais gases gerados pela agricultura no Brasil, entre eles: o CO2 (dióxido de carbono); o CH4 (metano), 25 vezes mais potente do que o CO2; e o N2O (óxido nitroso), cerca de 300 vezes mais potente do que o conhecido dióxido de carbono.

Segundo Cerri, “um gás pode ser medido a partir da sua capacidade de reter a radiação solar que bate na superfície do planeta e volta na mesma direção”. O especialista lembra que é nesta hora que um gás pode se constituir um aliado do fenômeno de “estufa”, ao bloquear a saída da radiação solar que incide sobre o planeta.

No caso da agricultura, mais especificamente no caso do café, as emissões dos chamados gases de efeito estufa (GEE) acontecem ao longo de todo o processo produtivo: do plantio, passando pelo manejo, colheita, transporte até a secagem e beneficiamento. Ao longo destas etapas, o café gera o chamado CO2 equivalente, dióxido de carbono e outros gases “que deixam um rastro de carbono ao longo de sua produção”, destaca Cerri.

      Além dos processos produtivos, os insumos agrícolas apresentam alto índice de emissão, considerando, principalmente, os fertilizantes nitrogenados – que liberam N2O e CO2 – e o calcário, responsável pela emissão do CO2. Além disso, foram levados em consideração a utilização dos combustíveis – responsáveis pela emissão de CO2,CH4 e N2O –, sobretudo nos transportes, e o uso da energia elétrica ao longo do beneficiamento – que libera CO2 e CH4 quando gerada em uma hidrelétrica, por exemplo. 

Ainda segundo os primeiros resultados da pesquisa, as principais fontes de emissão da cafeicultura, atualmente, estão concentradas no solo e nos resíduos decorrentes da atividade. Identificar, precisamente, as fontes de emissão e mitigar seus efeitos sem afetar a qualidade e a produtividade são os maiores desafios de um estudo como este. “Esta é uma iniciativa pioneira da illycaffè, em que teremos a oportunidade de calcular e monitorar essa emissão. Esta informação será exigida, muito em breve, pelo mercado consumidor internacional e estamos nos antecipando a isso”, afirmou Cerri. Para o cálculo, baseado na safra 2009/2010, foram utilizados os dados do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) e do The Greenhouse Gas Protocol – padrão internacional para quantificar os gases do efeito estufa –, além do inventário brasileiro de emissões, chamado de “Comunicação Nacional Inicial do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática”.

O cálculo foi conduzido da seguinte maneira: as emissões de CO2, N2O e CH4 (contabilizadas por hectare, saca e quilograma) – provenientes dos fertilizantes sintéticos, orgânicos, do calcário, do combustível e da eletricidade – foram multiplicados pelo fator de emissão internacional – Emission Factor (EF) –, já que o Brasil ainda não possui um índice nacional para as emissões.

A conclusão desta primeira fase da pesquisa batizada de “Inventário de emissão de GEE na cafeicultura”, realizada entre setembro de 2009 e agosto de 2010, mostrou que “o uso de adubação nitrogenada tem enorme impacto sobre as emissões da cafeicultura”, constata Cerri. Segundo o especialista, esse tipo de fertilização libera N2O, um dos gases que mais contribuem para agravar o efeito estufa.

Nas Matas de Minas, 78% do total de emissões analisadas são provenientes do uso de adubos que contêm nitrogênio em sua composição. No Cerrado, o número atinge 75%. No Sul de Minas, os fertilizantes nitrogenados respondem por 50% das emissões na produção do café, já que “a região apresenta maior uso de adubação organomineral”, lembra Cerri.

 Quanto ao uso do calcário, dos combustíveis fósseis e da eletricidade, a contribuição para o total de emissões é menor,

quando comparada aos fertilizantes.

Levando em consideração a intensidade das emissões em CO2 equivalente, o Cerrado lidera o ranking. Na região, são

lançadas na atmosfera 4,95 toneladas de dióxido de carbono (CO2 eq) por hectare. Na Zona da Mata, são 2,83 toneladas.

Já o Sul de Minas responde por 2,03 toneladas a cada hectare. “A cafeicultura não é um grande emissor [de gases do efeito

estufa], quando comparada a outras culturas”, conclui Cerri. Segundo ele, “outros grãos emitem de três a quatro vezes mais”.

  

  

  

  

  

Para diminuir o impacto ambiental da produção do café, reduzindo a emissão – sobretudo de N2O – dos fertilizantes, Cerri sugere algumas adequações no sistema produtivo apostando, por exemplo, no uso de fertilizantes com inibidores. Neste caso, poderiam ser adotados fertilizantes com inibidores de: uréase, enzima responsável pela decomposição da ureia em amônia; nitrificação, processo formador de nitrito no solo pela ação das bactérias; desnitrificação, formação de gás nitrogênio a partir de outras substâncias que também sofrem a ação de bactérias.

Além disso, o estudo aponta a necessidade e a importância de se adequar doses, fontes e o modo de aplicação dos fertilizantes na cafeicultura, assim como de adotar máquinas e formas de energia mais eficientes.

A segunda fase do “Inventário de emissão de GEE na cafeicultura” irá incluir, para o cálculo do índice de emissões na cafeicultura, dois importantes dados quando o assunto é a geração de gases do efeito estufa. “Ainda precisamos contabilizar o carbono do solo e o carbono da biomassa para calcular não só quanto é emitido, mas o total de carbono fixado”, afirma Cerri.

A primeira parte deste projeto pioneiro manterá o desafio de conciliar o rendimento da produção e a sustentabilidade, para que um dia “sejamos capazes de atingir um café carbono zero”, aposta o especialista, se referindo à fixação do carbono em outras áreas do ciclo produtivo. O caminho, a curto prazo, é “ampliar o uso de fertilizantes organominerais que, além de gerar redução de custo, são responsáveis pelo maior rendimento e queda nas emissões do café”.

Outras ações também são capazes de mitigar as emissões como, por exemplo, aplicar o sombreamento para imobilizar o CO2 da atmosfera na área do cafezal, ao fixar o carbono nas árvores. “O sombreamento, apesar de difícil no Brasil, permite que as árvores retirem o CO2 da atmosfera, imobilizando-o na madeira que, posteriormente, pode ser usada na fabricação de móveis, por exemplo, mantendo o dióxido de carbono aprisionado”, sugere Cerri.

Além disso, “a utilização do etanol, em substituição ao combustível de origem fóssil, pode gerar uma economia de 60% a 70% nas emissões de CO2 em uma propriedade”, ressalta o especialista. O etanol é considerado um produto neutro, já que, o que ele emite na plantação, ao ser ‘cultivado’, é, proporcionalmente, compensado na baixa emissão quando na forma de combustível.

Com o cálculo final do “Inventário de emissão de GEE na cafeicultura”, que deve ser divulgado em breve, “será possível, dar início a outros cálculos para diversos produtos no Brasil”, indica o coordenador do estudo.

As informações são da assessoria de imprensa da illycaffè.

 

Fonte:  Agro Link – www.agrolink.com.br